Cristiano Mascaro exibe 50 fotografias em "panorâmica" de sua produção desde os anos 80 no Instituto Tomie Ohtake
Além de exposição, livro lançado hoje revê a sua trajetória, destacando influências de nomes como Cartier-Bresson e Kertész
MARIO GIOIA
DA REPORTAGEM LOCAL
"Um fotógrafo razoável." É como Cristiano Mascaro, 63, se define ao mostrar as 50 imagens que compõem "Todos os Olhares", exposição "panorâmica" ("Retrospectiva não é comigo, eu sou um jovem promissor", brinca) da sua produção, com registros de 1980 a 2008 e curadoria de Agnaldo Farias.
"[As imagens] Vão se encontrando, não é? É, por mais que eu não perceba, não queira, foi esse olho aqui que olhou e elas acabam sempre tendo um vínculo", avalia ele.
"Eu posso ser um fotógrafo razoável, mas eu sempre soube, sem nenhuma má intenção, me aproximar de pessoas admiráveis. O Antonio Candido já fez uma apresentação do meu trabalho, o Ferreira Gullar chamou essas surpresas da fotografia de "espantos", do mesmo modo como o Nelson Rodrigues falava do "sobrenatural"."
Além da mostra, o fotógrafo também é foco de um livro, "Cristiano Mascaro - Desfeito e Refeito" (ed. Bei, organização de Laura Aguiar, R$ 82,50, 128 págs.), que é lançado hoje no instituto. A publicação revisita sua trajetória, com comentários, imagens de sua autoria e de nomes que o influenciaram, como Henri Cartier-Bresson (1908-2004), André Kertész (1894-1985), Ansel Adams (1902-1984) e Sergio Larraín.
"A gente tem de estar disposto para o imprevisto. Eu, pelo menos, não faço um trabalho que você constrói para fotografar. Acho que o sabor da coisa está em, realmente, você sair por aí disposto ao sobrenatural", afirma ele. "O Ansel Adams levou a uma condição extrema a técnica, que virou um elemento de linguagem, ele era muito rigoroso. Mas sua foto mais famosa, "Moonrise, Hernandez, New Mexico" [de 1941], ele fez numa correria, de improviso."
Por isso, São Paulo, cidade de transformações aceleradas e constantes, ainda é um dos principais focos de Mascaro.
"São Paulo exerce um fascínio muito grande sobre mim. Ela está sempre se autodestruindo, não no sentido negativo, se renovando. Há uma diversidade, uma mobilidade, cenários variados. Você fica parado numa esquina, e as coisas acontecem à sua revelia."
E, mesmo sendo retratada por diversas vezes, a cidade não deixa de surpreendê-lo. "Estava fazendo um trabalho por ocasião dos 450 anos de São Paulo para o Instituto Moreira Salles no centro da cidade. Fiquei me hospedando em uns hoteizinhos, e tinha um na Cásper Líbero [o Marian Palace, de 1942] que sempre me interessou. Me hospedei lá e, de madrugada, fui subindo para a caixa d'água. Ao subir a última escadinha, descortinou-se aquela paisagem, foi um fascínio muito grande, um "terra à vista"."
O processo de trabalhar em película também é fundamental para Mascaro. "A satisfação de buscar um lote de provas de contato no laboratório e ver o resultado é muito importante. Vou vendo aos pouquinhos. É igual a uma noite de amor, você não quer que acabe logo."
Quando: abertura hoje (convidados), às 20h; de ter. a dom., das 11h às 20h; até 4/5
Onde: Instituto Tomie Ohtake (av. Brigadeiro Faria Lima, 201, tel. 0/xx/11/ 2245-1900)
Quanto: entrada franca
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ISTO É MASCARO
Nasceu em Catanduva, interior de São Paulo, em 1944, e tem hoje 63 anos
Estudou na FAU-USP (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo) entre 1964 e 1968
Em 1968, começa a trabalhar como repórter-fotográfico na revista "Veja"
Em 1974, vira professor e dirige o Laboratório de Recursos Audiovisuais da FAU-USP; faz sua primeira mostra individual, "Paisagem Urbana"
Principais prêmios e bolsas
Bolsa Vitae de Artes (1990)
Prêmio Especial Porto Seguro (2007)
Principais livros
"Luzes da Cidade" (1996)
"O Patrimônio Construído" (2002)
"Cristiano Mascaro - Coleção Senac" (2006)
"Cidades Reveladas" (2006)
Tem fotografias nos acervos da Biblioteca Nacional e do Centro Georges Pompidou, em Paris (França); do Museu Internacional de Fotografia/Casa George Eastman, em Rochester (EUA); do MAM-SP (Museu de Arte Moderna de São Paulo); do Masp (Museu de Arte de São Paulo); da Pinacoteca do Estado; e do Instituto Moreira Salles, entre outras instituições
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Fonte: Jornal Folha de São Paulo, edição 28 de fevereiro de 2008.
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Blog do Alê, divulgando a notícia em primeira mão, a você colega fotógrafo.
Não deixem de conferir aqui no blog do Candango Fotoclube
Alessandro Souza
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